25/03/2010 - 18h26Marcas em camiseta
Defesa desiste de fazer acareação entre réus e mãe de Isabella
Rosanne D'Agostino
Do UOL Notícias
Em São Paulo
No interrogatório, Nardoni, afirmou que, na tentativa de achar a filha Isabella no dia do crime, entrou no apartamento, não viu mais a filha dormindo, foi imediatamente ao quarto dos irmãos quando viu a tela cortada. Com Pietro, outro filho do casal no colo, ficou de joelhos na cama e encostou o rosto na tela. “Não dava para passar a cabeça”, disse.
"A sua cabeça tem meio metro por acaso?", questionou Cembranelli, provocando a reação do advogado de defesa, Roberto Podval: "Faça o que é a sua obrigação". O juiz interveio novamente, dizendo que iria indeferir se houvese xingamento no tribunal.
O depoimento contraria o que diz o laudo da perícia técnica. A perita Rosângela Monteiro, do IC (Instituto de Criminalística), afirmou ao júri popular que as marcas na camiseta de Nardoni são as de alguém que encostou na tela de proteção com um peso de 25 quilos pendente para o lado de fora da janela. Para ela, foi ele quem jogou Isabella.
Choro e família
Ainda no depoimento, Nardoni afirmou que a mãe de Ana Oliveira, Rosa Oliveira, não queria o nascimento da neta, Isabella. “Eu briguei para ela nascer, porque a avó materna queria que ela [Ana Oliveira] abortasse. A Ana mesma não aceitava essa imposição da própria mãe”, afirmou. Neste momento, o avô José Araújo de Oliveira, sorriu, reprovando o depoimento. Nardoni ainda disse que Isabella era sua “princesinha”.
"Aquilo ali foi meu pior dia. Ali eu perdi tudo de mais valioso na minha vida. Ali eu perdi o chão. E ninguém estava acreditando no que estava acontecendo", disse Nardoni, que pediu ao juiz que pudesse falar diretamente aos jurados. O relato referia-se ao momento em que ele recebeu a notícia, já no hospital, de que a filha havia morrido.
Nardoni chorava, de frente ao juiz, quando pôde ver sua mãe, Cida, no plenário. Ela levantou, bateu no peito aos prantos, e disse: "Meu filho". Então, saiu e não voltou mais.
Abuso da polícia e acordo
Nardoni disse ainda que, depois da queda e da morte de Isabella, foi obrigado a passar a madrugada de domingo até segunda de manhã na delegacia, onde ele e Jatobá foram separados em duas salas. “Não desejo nem para o pior inimigo isso que passei e que estou passando hoje.”
Segundo o réu, delegados jogaram objetos nele. “Aí começou a sessão de xingamentos. Eu só falava que estava ali para ajudar e que eles podiam até me bater, mas teriam que responder por isso. Aí a Renata [Pontes, que relatou o boletim de ocorrência] pediu para algemar. Eles [os policiais] não estavam se conformando com aquilo”, disse.
Mais adiante, questionado pelo promotor Francisco Cembranelli se ele sabia o nome da professora e da pediatra de Isabella, Nardoni desconversou e começou a falar sobre o que teria acontecido em um interrogatório, que, segundo ele, contava inclusive com a presença do promotor.
"Eles mostraram a foto da minha filha no necrotério e houve uma proposta de acordo. Ele queria que eu assinasse um homicídio culposo e tirasse a minha esposa do processo. Eu disse que tava querendo descobrir a verdade. O doutor Calixto [Calil Filho, delegado] explicou qual era a diferença entre homicídio culposo e doloso”, afirmou.
O promotor questionou Nardoni se todos os que ele estava citando haviam participado daquela negociação e perguntou ao juiz o que tinha aquilo a ver com a pergunta que fora feita. “Eu só estou falando o que houve no interrogatório, no dia 18 de abril de 2008”, respondeu.
A defesa do casal Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá afirmou por volta das 18h20 desta quinta-feira (25) que não vai pedir uma acareação entre os réus e a mãe de Isabella Nardoni, Ana Carolina de Oliveira, que está isolada desde a segunda-feira (22), no Fórum de Santana, zona norte de São Paulo. As palavras foram ditas aos jornalistas pelos advogados Ricardo Martins e Roberto Podval.
Nardoni foi firme e ostensivo, diz jurista
Nardoni e Jatobá são acusados de participar da morte de Isabella Nardoni, que caiu da janela do 6º andar do edifício London, em março de 2008. Os motivos para desistir da acareção não foram esclarecidos pela defesa. Nesse momento o plenário está fazendo um pequeno recesso e deve ser retomado em breve o depoimento de Jatobá. Antes dela, quem prestou depoimento foi Nardoni.
Anna Carolina Jatobá, que fala no quarto dia do julgamento do caso, negou ter assassinado ou participado da morte da menina. “Não, é totalmente falso”, disse, muito nervosa, soluçando e gaguejando, aos jurados que decidem se ela e Alexandre Nardoni são culpados ou inocentes. O depoimento de Jatobá teve início às 16h20, logo após o término do interrogatório de Alexandre, e continua com as perguntas do juiz Maurício Fossen. Ainda podem questionar a ré a Promotoria, defesa e os jurados.
Durante seu depoimento, Alexandre Nardoni chorou, negou o crime, disse que teve desentendimentos no edifício London, onde tudo aconteceu em março de 2008, e que chegou a receber uma proposta de acordo para assumir sozinho um homicídio culposo (sem intenção de matar), livrando a mulher, Ana Carolina Jatobá, das acusações.
O promotor Francisco Cembranelli afirmou que o choro de Alexandre Nardoni não tem lágrimas e tentou, com suas perguntas, provar contradições em relação ao depoimento do pai sobre a morte da filha, Isabella.
O réu respondia às perguntas de forma nervosa e evasiva. A defesa usava a estratégia de perguntar ao promotor em que página do processo estavam as afirmações que ele usava para interrogar Nardoni. O promotor rebateu dizendo que isso era feito para dar tempo do réu pensar. No final, Cembranelli começava a dizer a página em que se baseava antes de perguntar.
Cembranelli perguntou se Alexandre traía Ana Oliveira com Jatobá, porque o primeiro encontro do casal aconteceu quando Isabella já tinha 11 meses. “Não traí”, disse Alexandre. Em seguida, o promotor perguntou se Nardoni, que não usava óculos, tinha problemas de visão: “Eu sempre usei óculos, o senhor não acompanha a minha vida”, retrucou o acusado. “Então, qual o seu problema de visão?” A resposta demorou a sair: “Ah, é, eu não enxergo de longe”. Maurício Fossen pediu o fim das perguntas irônicas.
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