14/05/2010 - 07h15
AFONSO BENITES
da Reportagem Local
A Polícia Federal e a Interpol investigam se o Brasil virou rota do
tráfico internacional de crianças haitianas. A suspeita surgiu depois
que um garoto de 11 anos, raptado no Haiti, foi encontrado sozinho na
estação de metrô Corinthians-Itaquera (zona leste de São Paulo) em
dezembro do ano passado.
Segundo o coordenador de Infância e Juventude do Tribunal de Justiça
de SP, desembargador Antonio Carlos Malheiros, várias crianças do
Haiti foram trazidas ao Brasil em 2009 em um esquema internacional de
tráfico de seres humanos.
O destino delas era a Guiana Francesa. A investigação ainda tenta
descobrir por que o Brasil seria rota de passagem para aquele país e
se, de lá, as crianças iriam para outros destinos.
Outra dúvida é a finalidade. "Não sabemos ainda qual o motivo desse
tráfico. Pode ser para adoção, exploração sexual, trabalho escravo ou
tráfico de órgãos", afirmou Malheiros.
O desembargador disse também que ainda não é possível dizer quantos
foram vítimas desse esquema, mas, segundo ele, o menino encontrado no
metrô em Itaquera afirmou à Justiça que foi trazido ao Brasil com
outras crianças haitianas.
"Aparentemente, saíram [do Haiti] clandestinamente. Mas só a
investigação da polícia poderá dizer ao certo como foi essa saída do
país", declarou.
O caso do menino achado em São Paulo foi revelado ontem pelo "Jornal
da Tarde".
A ONG Mães da Sé, que reúne dados de pessoas desaparecidas, chegou a
divulgar em seu site uma foto com informações do menino haitiano. Isso
levou um homem até a entidade em busca de dados sobre o garoto.
Depois que soube que ele estava com a Justiça, os dados dele foram
retirados da internet. Ontem, a PF orientou a ONG a não informar mais
sobre o caso.
Desde a véspera do Ano Novo, diz o desembargador, o garoto haitiano
encontrado em São Paulo está em um abrigo.
Segundo a Justiça, a mãe do menino morreu no terremoto que atingiu o
Haiti em 12 de janeiro deste ano. O pai dele está vivo e aguarda o seu
retorno. "Ele já demonstrou vontade de voltar para o Haiti. Em breve,
deverá ser enviado de volta."
A PF não deu detalhes sobre o caso. O Ministério das Relações
Exteriores informou o governo haitiano, mas disse que não sabe como
estão as negociações para a volta do garoto.
Antecedentes
Esse não foi o único caso recente envolvendo o tráfico de crianças
haitianas. Dezenove dias depois do terremoto, dez americanos foram
detidos em Porto Príncipe quando tentavam atravessar a fronteira para
a República Dominicana com 33 crianças com idades entre dois meses e
12 anos. Eles foram acusados de atuar num esquema de adoção ilegal.
Dois meses após o terremoto, um casal haitiano e uma boliviana foram
presos na Bolívia sob a suspeita de tráfico humano para a exploração
sexual e de trabalho. Com eles, estavam 27 crianças e adolescentes com
idades entre 6 e 17 anos.
http://www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/ult95u734943.shtml
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