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terça-feira, 13 de abril de 2010

VIOLÊNCIA/ENTREVISTA: 'Educação é o melhor instrumento contra a violência entre jovens'

Jacobo Waiselfisz: 'Educação é o melhor instrumento contra a violência entre jovens'
Por Cristina Falasco

São Paulo, 10 (AE) - O crescimento da violência no interior do Brasil e o aumento no número de jovens assassinados estão entre as questões mais preocupantes reveladas no "Mapa da Violência 2010 - Anatomia dos Homicídios no Brasil", divulgado em 30 de março, na capital paulista. Para o autor do estudo, o sociólogo argentino Julio Jacobo Waiselfisz, os dados mostram que "a história da violência homicida no País é a história do assassinato de sua juventude". O pesquisador aponta que só a educação pode promover a inclusão social e combater de maneira eficaz a violência entre jovens.

Radicado no Brasil há mais de 30 anos, Waiselfisz, que é diretor de pesquisas do Instituto Sangari, braço social da Sangari Brasil, já mapeou a violência no País em outros dez estudos: seis apenas sobre violência entre jovens, dois com foco nos municípios, um exclusivo sobre São Paulo e um sobre juventude e violência na América Latina. A seguir, trechos da entrevista concedida por ele, por e-mail, à reportagem:

O Mapa da Violência 2010 mostra que as taxas de homicídio estão caindo nas regiões metropolitanas, mas crescendo no interior do País. Quando começou a interiorização da violência?

JULIO JACOBO WAISELFISZ - A interiorização da violência é um fenômeno que começou a ser observado de meados para fins da década de 1990, quando os índices de aumento das taxas de homicídio nas capitais e grandes regiões metropolitanas estagnaram. Até aquele momento e desde que começaram a ser divulgados os dados do Sistema de Informações de Mortalidade (SIM) do Ministério da Saúde, em 1979, os polos dinâmicos do crescimento dos homicídios radicavam-se nas grandes metrópoles. A partir de fins da década de 1990 e até 2003, esses índices estagnaram: nas capitais, em torno de 45 homicídios em 100 mil habitantes e, nas regiões metropolitanas, em torno de 49 também em 100 mil habitantes. A partir daquela data, as taxas de ambas as áreas regridem significativamente para 37 homicídios a cada grupo de 100 mil habitantes em 2007. Nesse ínterim, as taxas do interior não pararam de crescer, passando de 13,5 para 18,5 homicídios em 100 mil.

Quais as principais causas dessa mudança ?

WAISELFISZ - Vários fatores parecem explicar esse fenômeno da interiorização da violência. Um deles é o Fundo Nacional de Segurança, implementado em consequência do novo Plano Nacional de Segurança de 1999. Ele canalizou recursos para as metrópoles mais violentas do País, tornando mais eficientes as condições de enfrentamento da criminalidade nessas áreas. Outro fator foi um forte processo de desconcentração econômica, com migração de investimentos e demanda de mão de obra das metrópoles para o interior, ao oferecer incentivos fiscais e condições operacionais favoráveis. Mais dinheiro circulando no interior atrai a criminalidade.

Em 2007, a população jovem (15 a 24 anos) representava apenas 18,6% da população total do País. Apesar disso, concentrava 36,6% dos homicídios registrados nesse ano. Quais os principais indicadores da concentração de homicídios na juventude?

WAISELFISZ - Se dividirmos a população em dois grandes grupos - os jovens (15 a 24 anos de idade) e os não-jovens (aqueles com menos de 15 anos de idade e aqueles que ultrapassaram a faixa de 25 anos) - teríamos o seguinte panorama: os homicídios na faixa não-jovem permaneceram estagnados ou até caíram levemente ao longo dos anos. Efetivamente, em 1980, a taxa de homicídios entre os não-jovens foi de 21,2 homicídios em 100 mil não-jovens, que cai para 18,1 em 1990 e fica em 19,6 em 2007; já entre os jovens, essa taxa foi de 30 homicídios em 100 mil jovens em 1980, e pula para 38,8 em 1990 e para 50,1 em 2007. Esses dados evidenciam que a história da violência homicida no Brasil é a história do assassinato de sua juventude. Só nessa faixa se registram aumentos nos níveis de violência.

Qual o papel da educação no enfrentamento da violência juvenil?

WAISELFISZ - No Mapa da Violência ponderamos que existe uma diversidade de estudos no País que evidenciam de forma categórica que o maior fator de diferenciação e de inclusão social é a educação. Temos no País aproximadamente 35 milhões de jovens, dos quais a maioria faz o que se espera socialmente de um jovem: estuda, trabalha ou faz as duas coisas ao mesmo tempo. Mas temos 20% de nossos jovens que nem trabalham nem estudam. São jovens de famílias de baixa renda que, por falta de condições, abandonaram cedo seus estudos. Com esse déficit, fica difícil encontrar trabalho.

E diante dessa falta de perspectivas, qualquer alternativa acaba sendo boa para o jovem, seja legal ou ilegal?

WAISELFISZ - Sim, e é esse o campo de recrutamento da criminalidade. Até os dias de hoje, não se inventou melhor instrumento de inclusão social do que a educação. Seguindo o caminho de muitos países do mundo, porque não tornar obrigatório também o ensino médio, tendo como meta sua universalização, como recentemente proposto e obtido com a educação fundamental?

E por que os jovens, de população negra, morrem mais?

WAISELFISZ - Entre 2002 e 2007, se as taxas de homicídio de negros aumentaram, passando de 30,0 para 32,1 homicídios em 100 mil negros, enquanto que as taxas de homicídio de brancos caíram significativamente, passando de 20,6 para 15,5 homicídios para cada 100 mil brancos. Esse duplo processo fez com que os índices de vitimização negra se elevassem de 45,8% para 107,6%. Os estudos indicam que os negros se localizam entre os grupos de menor renda e, por isso, não tem condições financeiras de recorrer a serviços privados de saúde, educação e segurança.

Como alterar o atual quadro de violência?

WAISELFISZ - As evidências demonstram que não temos de esperar que esses determinantes, principalmente os econômicos - combate à pobreza e às desigualdades econômicas - sejam superados para que a violência comece a recuar. Experiências com êxito no Brasil - como as dos municípios da Região Metropolitana de São Paulo: Diadema, Guarulhos, etc. - ou internacionais, como as de Cali, Medellín ou Bogotá, na Colômbia, ou Nova York, nos EUA, evidenciam esse fato. Essas localidades combateram a violência basicamente com medidas que vão da mobilização das instituições da sociedade civil, políticas de reordenamento urbano, estruturação de alternativas de cultura, lazer, esportes, entre outras.

Como o sr. analisa a violência como fator que afeta a escolaridade e a formação de crianças e adolescentes?

WAISELFISZ - Existe aqui um duplo processo. Por um lado, os déficits de escolaridade se convertem em fator de incentivo à violência, principalmente na juventude e, por outro, a violência representa fator impeditivo da inserção educacional das crianças, principalmente nos setores pobres da população. Diversos estudos sobre violência nas escolas evidenciam que a violência externa é incorporada nas escolas, que não permanece imune aos estímulos externos. Ambientes de temor, medo, apreensão, desconfiança são pouco propícios para o clima que os processos de aprendizagem exigem. Ainda mais se as escolas se localizam em áreas de violência criminal endêmica, as circunstâncias afetam diretamente a própria existência da escola, que tem que fechar suas portas de forma frequente para evitar risco para as crianças.

10/04/2010 16:31 - NG/GR/VIOLÊNCIA/ENTREVISTA

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